Uma das maiores burlas dos nossos tempos terá sido o prestígio da imprensa. Atrás do jornal, não vemos os escritores, compondo a sós o seu artigo. Vemos as massas que o vão ler e que, por compartilhar dessa ilusão, o repetirão como se fosse o seu próprio oráculo. Joaquim Nabuco
O poder da informação já era descrito à séculos como um fator modificador de atitudes, hábitos e costumes, nas palavras atribuídas a Joaquim Nabuco um libertário nacional, demonstra claramente a real dimensão desse poder.
Ao longos dos anos vemos que as noticias ganharam velocidade quase da luz, com o avanço tecnológico do mundo virtual, quase instantaneamente o fato aconteceu vira notícia, independente do local aonde ocorreu. No mundo virtual não há mas separadores de tempo e de distância.
Não posso descrever esse poder de forma tão negativa, seria injusto pelas incontáveis notícias produzidas e difundidas entre a população, diariamente por gerações que trouxeram melhorias, mudanças e conhecimento dos fatos aos atos.
Como profissional de segurança o que tenho observado é a transferência de conhecimento próprio ao crime, através de reportagens que ao meu ver nada contribuem para a melhoria da sociedade.
Há alguns anos atrás a imprensa noticiou e mostrou as imagens de uma modalidade criminosa que foi batizada de “arrastão carioca”, na famosa praia de Copacabana, no Estado do Rio de Janeiro, acredito que naquele momento, a imprensa visou mostrar como andava a questão de segurança pública no maior cartão postal do Brasil, as imagens foram claras, nos moldes de agir e coordenados dos bandidos, perfeito do ponto de vista educacional e reivindicativo do clamor publico.
Porém, o fato por traz do acontecido repousou na transferência de conhecimento para outros marginais em diversos locais, longe do Rio de Janeiro, onde o arrastão passou a ter sobrenome: mineiro, paulista, pernambucano, baiano, etc. O conhecimento foi transferido quase instantaneamente aos mais longes ricões desse País, pelas imagens geradas do fato. E com isso outras sociedades que não foram vitimas dessa modalidade criminosa, passaram a ser as mais novas investidas dos criminosos nos outros Estados, repetindo igual os acontecidos na Cidade Maravilhosa.
Recentemente vi num grande programa de reportagem, uma pauta sobre furto de armas dos fóruns de justiça do Estado de São Paulo, as imagens mostraram como foi realizado a empreitada criminosa, quantas foram levadas, o que fizeram para conseguir furtarem as armas de fogo das mãos da justiça e debaixo dos rigores da Leis.
Ao final da reportagem ficou o sucesso dos bandidos em reaver 387 armas de fogo, parte de processos criminais sob responsabilidade da justiça, e que simplesmente voltaram ao mundo do crime, de forma simples, sem maiores dissabores, em contrapartida aos caminhos feitos para tirarem as mesmas de circulação anteriormente, da para imaginar o preço que foi pago, em vidas das vítimas, dos danos aos patrimônios que essas armas “devolvidas“ao mundo do crime custaram.
Não me resta dúvidas que a informação repassada foi aprendida por muitos marginais, que estão já em fase de planejamento, para repetir a mesma operação em qualquer lugar desse País, embora não seja uma notícia nova isso já aconteceu uma centena de vezes e em vários lugares. Logo teremos mais iguais notícias.
É uma pequena parte de um imenso universo de fatos, o problema apenas foi exposto, o que devemos perguntar a quem interessa isso? Por que há a necessidade de informar com detalhes o ato criminoso?
“A imprensa sempre acaba por impor a verdade da notícia no lugar da notícia da verdade”. Artur da Távola